Inclusão escolar: um passo para a igualdade de todos





“Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles”.

Provérbios 22:6


Quando paramos para pensar nas palavras que este versículo do livro de Provérbios nos pode revelar, através da sabedoria de Deus, não é tão difícil de interpretar, pois está ligado diretamente aos nossos valores, crenças, ideias e atitudes diante de tudo aquilo que Deus coloca em nossa vida para sabermos viver e conviver. Ensinar os filhos para que eles sejam abençoados e não se desviem dos caminhos retos do Senhor é a obrigação de todo pai temente a Deus. 

Entretanto, vivemos numa sociedade onde os valores estão invertidos e tudo aquilo que aprendemos em casa sobre Deus é facilmente confundido com as diretrizes do mundo fora de casa. Viver sob o regime da luta de poderes nos coloca em xeque diante de tantas regras, disputas e ideologias da sociedade que hoje vivemos. O assunto que vamos abordar nesta edição é sobre inclusão escolar de pessoas com deficiência, onde todos os seus direitos são tolhidos e com efeito abusivo dentro de uma sociedade que detém o poder diante dos excluídos. Hoje, quando falamos sobre o tema, gera-se uma série de discussões em torno de uma lei que fora aprovada na teoria, mas na prática isso é bem diferente. A qualificação dos educadores tem preocupado dentro as instituições que convivem com essa realidade.









A Lei nº 7.853, aprovada em 1989 e regulamentada em 1999, obriga todas as escolas a aceitar matrículas de alunos com deficiência e transforma em crime a recusa a esse direito. Assim, o número de crianças e jovens com deficiência nas salas de aula regulares não pára de crescer. Em 2001, eram 81 mil; em 2002, 110 mil; e em 2009, mais de 386 mil, incluindo as deficiências, o Transtorno Global do Desenvolvimento (TDG) e as altas habilidades, de acordo com pesquisa feita no site da Revista Nova Escola sobre inclusão escolar.

De posse dos dados, a revista Mandamentos conversou com alguns profissionais da área da Educação, Sociologia e do Departamento de Surdos da Assembleia de Deus Canaã Sede, para avaliar e nos explicar a importância dessa inclusão social/escolar e como isso pode gerar uma conscientização social para os pais e mestres com o apoio da igreja como um órgão de sociabilização cristã à luz da Palavra de Deus.

Segundo Natália S. Almeida, pedagoga em Educação Especial e guia-intérprete de Português/Libras, que atua como intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) na AD Canaã Sede durante os cultos, a inclusão escolar trata exclusivamente do contexto educacional, enquanto a inclusão social oportuniza a autonomia das pessoas com deficiência na sociedade. “A relação entre elas é que a inclusão escolar é um atributo necessário, mas não suficiente à plenitude da inclusão social da pessoa com deficiência”, disse ela.  

Para a intérprete, as pessoas com deficiência não buscam um acolhimento assistencialista, mas lutam por igualdade de oportunidades na sociedade. “A importância está em possibilitar que ela mostre, alargue suas capacidades e supere as barreiras impostas pela sociedade. Cada pessoa com deficiência é um exemplo de superação, ao viver em uma sociedade que ainda precisa aprender a tratar com igualdade os diferentes. Além do que, sempre aprendemos sobre o real valor da vida com eles”, complementou.  

Dentro deste contexto, a Igreja surge como um canal de socialização das pessoas com deficiência, a partir do trabalho de tradução por meio da Libras. O Ministério Canaã é um exemplo. “A igreja inclui em suas reuniões, cultos e programação todas as pessoas com deficiência, obedecendo ao ide de Cristo, relativamente ao que Jesus ensinou-nos em Mateus 28:19: pregar o Evangelho a toda criatura”, afirmou Natália. A igreja dispõe de assentos preferenciais e intérprete de Libras aos surdos que fazem uso da Libras e acolhe com prontidão e eficiência os cadeirantes ou quaisquer pessoas com deficiência física, visual e intelectual. Em sua construção, a instituição ainda ainda preza por cumprir as normas arquitetônicas estabelecidas pela legislação, quanto ao acesso por rampas, banheiros adaptados e vagas reservadas no estacionamento.

O que podemos constatar diante deste assunto e de tantos outros, apesar da conscientização da sociedade, é a falta de qualificação profissional e disponibilidade de certos educadores que ainda têm dificuldades em lidar com o assunto. Universidades, em seus cursos de graduação e de especialização, estão revendo e organizando seus currículos a fim de oferecer capacitação para a assistência necessária aos profissionais da área da Educação. Natália enfatiza que na escola os educadores precisam enxergar que os alunos com deficiência, inclusive aqueles que apresentam deficiência intelectual, são capazes de aprender ao seu tempo e modo. Dessa forma, não só a Igreja ou a escola, mas também a sociedade, devem enxergá-los como seres humanos.

Com base na Sociologia, que é uma ciência nova, podemos entender que para a sociedade viver de forma coesa, há a necessidade de uma melhor conscientização das pessoas no que se diz respeito ao indivíduo. Somos dotados de responsabilidades sociais, mas não buscamos nossa real cidadania quando se diz respeito ao outro, pois achamos que o problema do outro não é problema nosso. O ser humano vive, apesar de toda a globalização, de forma individual e parcial quanto ao desenvolvimento comportamental da sociedade. O homem é um ser social, e precisa viver em grupos para melhorar o seu desempenho como pessoa. Porém, a própria sociedade impõe regras que afasta esse indivíduo do seu próprio crescimento pessoal.








A Bíblia é clara, quando mostra nos Evangelhos que Jesus está sempre sociabilizando as pessoas menos favorecidas ao convívio da sociedade quando elas são literalmente excluídas e as coloca como ponto chave de toda a questão, coibindo qualquer ideologia criada na época. É o caso da mulher samaritana (Jo 4:9), excluída por ser mulher e não poder falar com os judeus por ser também de Samaria. E se podemos expor mais casos de socialização em relação às pessoas com deficiência através de Jesus, podemos destacar o cego de nascença (Lc 18:35) e a mulher do fluxo de sangue (Mt 9:20), sem esquecer que naquele tempo esse problema era um fardo e a mulher era excluída do convívio social, com base na lei em Levíticos (Lv 15:25). Assim, muitas foram as curas e milagres de Jesus. “De tal sorte, que a multidão se maravilhou vendo os mudos a falar, os aleijados sãos, os coxos a andar, e os cegos a ver; e glorificava o Deus de Israel” Mateus 15:31.







Inclusão na Visão da Sociologia 


Em uma pesquisa feita pelo médico psiquiatra Jean-Marie Gaspard Itard, diretor de um instituto de surdos-mudos em Areuron, na França, constatou-se um caso de um menino encontrado abandonado numa floresta por volta de seus quatro ou cinco anos de idade, e privado completamente do convívio social. Conhecido como o “menino selvagem”, Victor de Aveyron não pronunciava nenhuma palavra e parecia não entender nada do que falavam com ele. 








Foi quando o pesquisador propôs uma análise em seu comportamento: Quais as consequências da privação do convívio social e da ausência absoluta da educação social humana para a inteligência de um adolescente que viveu assim, separado de indivíduos de sua espécie? Ele acreditava que a situação concreta de abandono e afastamento da civilização explicava o comportamento diferente do menino Victor, contrapondo-se ao diagnóstico de deficiência mental para o caso. A pesquisa foi divulgada em seu livro intitulado “A Educação de um Homem Selvagem”, publicada em 1801, onde descreve as etapas de sua educação e constata um aproveitamento excepcional na convivência com outras pessoas. Aproximando-se da visão sociológica dos fatos sociais, o pesquisador concluiu que o isolamento social prejudica a sociabilidade do indivíduo, ou seja, a sociabilidade é a base da vida em sociedade. 







“As crianças costumam incluir naturalmente umas às outras, não importando se alguma apresenta uma deficiência. Por vezes, são solícitas em ajudar, quando percebem que outra criança do grupo demanda alguma atenção diferenciada. Os adultos, entretanto, tendem a ser mais excludentes ou extremam no cuidado e assistencialismo, como se a pessoa com deficiência fosse incapacitada em todas as áreas”, acrescenta a pedagoga Natália sobre a inclusão no convívio em sociedade. Segundo ela, os pais são o primeiro referencial que uma criança pode ter. Por isso, é importante que a família perceba, desde cedo, quais são as dificuldades que o filho enfrenta e esteja ao seu lado, buscando profissionais capacitados e estimulação precoce. “Os pais devem, ainda, crer que os filhos são bênçãos de Deus para suas vidas. Mesmo que eles não sejam como a maioria, isso não os desmerecerá de amor e cuidados que todo filho necessita”, aconselhou.


Somos corresponsáveis na educação das crianças que são o futuro do nosso país e que levam no seu coração os ensinamentos passados de geração para geração. Se não começarmos a ter a consciência que pessoas deficientes merecem também participar da vida em sociedade, estaremos colocando de lado a Palavra de Deus. Porque não lembrarmos do rei Davi, que trouxe de volta à realeza o coxo Mefibosete (2 Sm 9:13)








Se todos nós vivêssemos como verdadeiros cristãos, muitas coisas poderíamos mudar, assim como o teólogo Howard Hendricks mostra no seu livro “Ensinando para Transformar Vidas” o amor pelo ensino. A relação professor-aluno-aluno-professor deve gerar um aprendizado constante. Ele enfatiza quando afirma: “Que Deus nos permita ter esse amor, e que esse amor nunca se acabe”.







Como educadores, temos essa parcela
no desenvolvimento humano. 







No entendimento de Natália, a igreja é uma célula da sociedade, a qual nos dirigimos para buscar ao Senhor e adorá-Lo, juntamente com nossos irmãos. “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria”, diz a Palavra de Deus em 1 Coríntios 13:1-2. “Como servos de Deus, devemos amar o nosso próximo, como amamos a nós mesmos, respeitar os servos a quem Deus chamou, capacitou e colocou em nosso meio. A autêntica igreja do Senhor Jesus alegra-se com a vida de todos os seus membros, cuidando e respeitando, pois o amor de Deus está em nós”, opina a pedagoga.




Natália S. Almeida sugere que os obreiros sejam capacitados para prestar atendimento em Libras, saber guiar pessoas com deficiência visual e dirigir-se a uma pessoa com deficiência intelectual. Outra ideia seria a inclusão nas gravações de pregações a janela da Libras, para evangelizar outros surdos. A disposição de um exemplar da Bíblia Sagrada e Harpa Cristã em Braille para o acompanhamento da leitura da Palavra e louvores por pessoas cegas, segundo ela, também ajudaria na inclusão destes irmãos. Por último, a intérprete propõe a formação dos professores das classes do culto infantil para receber e incluir as crianças com deficiências, uma ação fundamental para que tenhamos uma igreja inclusiva.






Educar é ensinar por amor, e o amor vem de Deus. A cada dia nós precisamos entender e ter essa maturidade espiritual que dentro do nosso ambiente educacional se encontram três elementos importantes: eu, você e o Espirito Santo. Quando aprendemos isso, podemos responder com mais autoridade ao chamado que o Senhor nos fez, e desta forma, ensinar para transformar vidas. A inclusão escolar só vai acontecer de fato na sociedade quando todos nós, pais e educadores, forem incluídos socialmente ao lado de pessoas com deficiência. Viva essa diferença e seja aquele que pode, até não mudar o mundo, mas fazer parte dessa mudança. 






Márcia Morais

Estudante de Pós-Gradução em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica e Bacharel em Teologia - Coluna Pais & Filhos - Revista Mandamentos - Edição 5 - 2013

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